Mestre Zé Negão traz o coco de senzala a São Paulo em única apresentação no Sesc 24 de Maio

Na terça-feira, 3 de outubro, o teatro do Sesc 24 de Maio, no centro de São Paulo, vai relembrar as histórias dos africanos escravizados no Brasil, através do show Tumbeiro, do Mestre Zé Negão que conta, e canta, através do coco de senzala, as tradições de seu povo com composições inéditas e autorais que confrontam a versão da historiografia oficial, que quase sempre, não aborda com verdade a cultura do povo negro. O coco é acompanhado por atabaques, congas, alfaias, pandeiros, berimbau e caxixis.

Zé Negão é pernambucano e neto de africanos escravizados, passou a infância e adolescência trabalhando como cortador de cana nas usinas da região. O músico, que foi criado apenas pelo pai e com muitas dificuldades financeiras, encontrou nos terreiros alimento para o corpo e para alma. Foi onde teve seu primeiro contato com a música e os ritmos marcados dos atabaques.

As influências musicais ainda agregam as escolas de samba e rodas de capoeira. Sua música carrega muito de seu propósito, como militante e ativista político e traz nas letras o resgate de canções entoadas pelos escravos, com letras curtas e diretas, cheias de referências ao cotidiano de sofrimento com as intermináveis jornadas e castigos físicos.
Em 2008 o Mestre foi reconhecido como Griô de tradição oral pelo Ministério da Cultura e em 2011 foi homenageado pelo Governo do Estado de Pernambuco. Contador de incríveis histórias, hoje referência na cidade, o mestre traz consigo uma imensa consciência política presente em todas as suas atividades; líder comunitário, músico, percussionista, educador, artesão, Zé Negão construiu em sua casa um ateliê onde confecciona seus próprios instrumentos e ministra oficinas, espaço carregado de marcas da sua personalidade. O forte traço negro presente na sua pele, em suas roupas, em suas falas, em suas músicas e em tudo que por ele é construído fazem do mestre uma figura ímpar e admirável. Sua voz marcante, sua vitalidade e energia o fazem o mestre mais conhecido da cidade, tendo realizado diversas apresentações pelo Brasil.

O show Tumbeiro não apenas leva ao público um resgate histórico narrado através de ritmos culturais legítimos, mas também, a oportunidade de conhecer mais sobre uma cultura que não se calou diante de tanto sofrimento, mas sim, manteve, através da música, a força para manter a vida diante de tantos abusos impostos ao povo africano que foi escravizado no Brasil.

Editado por Daniela Silveira às 29/09/2017